domingo, 26 de abril de 2009

Ti Zé Franco

O ti Zé Franco era uma daquelas pessoas que caía no gôto logo à primeira. A toda a gente.
Homem simples, brincalhão, adorava crianças. Amigo de todos, irradiava uma aura de sabedoria quando se conversava com ele. Vai deixar saudades, o ti Zé Franco.
Criador de uma obra a que dedicou toda a sua vida e que encantou (e continua a encantar), pequenos e graúdos, o Mestre viu realizado o seu sonho de construir uma lindíssima aldeia museu em pequena escala. A sua aldeia saloia. Não totalmente saloia! A aldeia tem também um pouco de jagoza. Nela se pode ver, entre outras, uma recriação da praia dos pescadores da Ericeira.
Ti Zé era meio saloio, meio jagoz. Tinha também no seu coração, a nossa terra. E isso ajudou certamente também, a construir o ser humano especial, que foi. Artista oleiro, saiu das suas mãos uma obra em cerâmica, incomparável, que certamente o imortalizará. Para nós, jagozes, estará sempre na nossa memória e no nosso coração.

Lembro-me uma vez (tinha eu os meus 10 ou 11 anos), de ir com o meu inseparável amigo Pimenta, a pé até ao Sobreiro para visitar o ti Zé e deambular pela sua aldeia museu. Sempre que o visitávamos, bebiamos um copinho de jeropiga, que ele fazia questão de oferecer. Naquele tempo a jeropiga que o ti Zé oferecia aos visitantes era da boa, práticamente mel. Mas nesse dia, o ti Zé Franco estava ocupado a falar, em amena cavaqueira, com uns soldados da GNR e fez-nos sinal para nos servirmos da dita jeropiga. Acontece que, para além do canequito de serviço, existia presa à parede, por cima do respectivo barril do divinal néctar, uma colecção de canecos. Do mais pequenino... ao de litro. Servimo-nos de um dos canequinhos, uma, duas vezes.
Olhámos um para o outro. Chato, ter de encher um pequenino várias vezes! Não havia visitantes e pensámos que aquilo se não fosse bebido, podia azedar. Servimo-nos de outro caneco, bem maior.
Não bebemos muito. Mas no caminho de regresso, deu cá uma daquelas marteladas, isso deu.

O certo é que ainda hoje não me lembro se me cheguei a despedir do meu amigo Pimenta e tão pouco como cheguei a casa. E se a minha velhota me deu a respectiva coça, confesso que não dei por nada. Nunca mais abusámos da hospitalidade do ti Zé Franco e durante muito tempo, quando lá voltávamos, passávamos ao largo da cozinha e do barril da jeropiga. Por uma questão de tentação...


Fica aqui, a singela homenagem ao artista e ao amigo, José Franco.
João Bonifácio

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O fim de uma instituição ?

É com preocupação e alguma revolta que os Jagozes da Ericeira têm acompanhado o evoluir da situação do Grupo Desportivo União Ericeirense. Situação algo delicada que pode ditar o fim do clube. Situação ainda mais delicada quando está em jogo a vida humana.
Não faço aqui juízo de valores. Cada um terá as suas razões e, possívelmente, ninguém terá razão alguma.
Certo é que a obra está feita. Certo é que será criminoso deixar destruir o que tanto custou a levantar. Certo é que alguns serão culpados pela situação a que se chegou. Não estou aqui para apontar o dedo a ninguém. Mais certo ainda é que todos nós seremos responsáveis pela forma como tudo irá acabar. Para o bem e para o mal.
A História da Ericeira julgará, no futuro, o comportamento de todos, no presente.
Do "Grupo Desportivo União Ericeirense" destaca-se uma palavra que está a tomar força no seio dos jagozes e de todos os amigos da Ericeira: "União" !
Será, sem qualquer tipo de dúvida, a única saída para a resolução do problema. A união. A solidariedade.
A história desta instituição faz parte da história da nossa terra. Deixá-la morrer é deixar morrer um pouco da Ericeira. Está nas nossas mãos evitá-lo.
Quero aqui deixar também a minha solidariedade para com os dirigentes e atletas do Grupo Desportivo União Ericeirense. Em especial ao seu presidente que atravessa horas angustiantes e demonstra uma coragem indómita, própria de um verdadeiro JAGOZ.
Estamos todos contigo Tomané.
Resumo dos acontecimentos:
"O presidente do Grupo Desportivo Ericeirense começa a ressentir-se do cansaço ao fim de dois dias de greve de fome, a que aderiu por estar a ver os seus bens pessoais a serem penhorados por dívidas do clube.
"Sinto-me muito cansado em especial depois de estar a falar aos jornalistas e às centenas de pessoas que aqui têm passado e me têm dado o seu apoio", disse hoje à Agência Lusa, cerca das 16:00, o presidente do Ericeirense, Mano Silva.
"A médica alertou-me que a minha tensão está mais baixa e mandou-me dosear o açúcar na água e dormir no mínimo 12 horas, mas tenho dormido pouco", acrescentou.
Mano Silva, "consciente do risco de vida", iniciou a greve de fome às 11:00 de terça-feira como forma de pedir ao Governo e à Câmara Municipal de Mafra, que "foram parte dos problemas" do clube, que sejam agora "parte da solução".
O dirigente acusa as duas entidades de terem contribuído para a falta de receitas no clube da 1.ª Divisão Distrital de Honra de Lisboa. Contactada pela Lusa, a Câmara Municipal de Mafra, escusou-se a comentar.
"Estivemos seis anos à espera que a câmara autorizasse a instalação de uma superfície comercial em terrenos anexos ao estádio", justificou o dirigente.
Por outro lado, acusa a autarquia e o Governo de não terem dado estatuto de utilidade pública ao Grupo Desportivo Ericeirense, condição necessária à instalação de um espaço para se jogar bingo, que iria em 2003 não só "cobrir as dívidas" do clube como garantir uma receita mensal, cujo valor não foi avançado.
As dívidas à banca, avaliadas em um milhão de euros, foram contraídas em 2001 através de dois empréstimos, que tiveram como fiador o próprio presidente do clube e que eram destinados a financiar as obras do complexo desportivo e a aquisição do terreno para a superfície comercial.
Devido à falta de verbas do clube, os bens pessoais do dirigente estão a ser penhorados por ordem judicial devido a uma dívida que, com os juros, subiu para os dois milhões de euros.
"Já vendi dois apartamentos para honrar os compromissos do clube e está já em execução a penhora de um prédio de quatro pisos, um apartamento e um terreno", disse Mano Silva, que corre o risco de ficar sem casa em Maio e sem quaisquer bens pessoais.
Mano Silva, que está dia e noite no estádio do Ericeirense, tem ingerido apenas água e um chá com açúcar.
O dirigente tenciona, "a partir de segunda-feira, deixar de ingerir quaisquer líquidos", se não forem encontradas as soluções para o pedido de ajuda que tem vindo a fazer.
O empresário foi hoje visitado pelo presidente da Liga de Clubes de Futebol Não Profissionais, Dias Ferreira, que foi ao local manifestar apoio ao dirigente desportivo."

Mais informação em:

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Forte de S. Pedro (Milreu)

(Dedicado ao bom Jagoz e amigo da Ericeira: José Henriques)

No extremo norte da Vila da Ericeira, no local conhecido por Milreu, junto do actual parque de campismo, encontra-se o pequeno forte de S. Pedro, ali implantado para defesa costeira. Segue-se a cronologia da sua história.

1670 - Inicia-se a sua construção.
1675 - Encontra-se concluído, segundo relatório então elaborado a propósito da visita de inspecção do marechal de campo, o marquês de Fronteira.
1680 - Já está guarnecido, sendo seu 1º governador o cabo Domingos Luís.
1706 - Governa-o Francisco de Almeida Carvalho.
1735 - Apresenta-se artilhado com 7 bocas de fogo e guarnecido, sendo seu governador o cabo José de Mendonça.
1751 - Devido ao rigoroso Inverno e segundo o relatório do sargento-mor Filipe Rodrigues de Oliveira, o forte encontra-se arruinado, necessitando de serem reconstruídos os parapeitos das baterias, bem como as 2 guaritas e colocadas novas portas e janelas.
1755 - Recebe obras na sequência dos estragos causados pelo terramoto.
1796 - Subsiste a ruína de algumas partes da fortificação (designadamente da escada de acesso ao terraço), segundo o relatório do coronel José Matias de Oliveira Rego, o qual informa que existem então na fortificação 1 peça de bronze e 5 de ferro em bom estado de conservação, sendo a guarnição composta por 7 soldados e 5 artilheiros.
1806 - Enquanto estrutura militar, o forte é desmantelado e desguarnecido.
1819, 3 de Janeiro - A Câmara pede auxílio ao Rei para a reconstrução da muralha do Cais, que o mar havia desmoronado.
1819, 14 de Junho - João Gaudêncio Torres é nomeado Inspector da obra da reconstrução da muralha.
1821 - O forte encontra-se abandonado e em acelerado estado de ruína.
1831/1832 - É reparado e volta a funcionar como posto de defesa.
1832 - Está artilhado e nele as tropas miguelistas aguardam o desembarque dos liberais que não veio a verificar-se neste ponto da costa.
1853 - Já não dispõe de artilharia e encontra-se abandonado.
1867 - Subsiste o estado de abandono.
1871 - É solicitada autorização ao Ministro da Guerra para se utilizarem lajes do forte para o restauro da igreja de São Pedro.
1872 - Verifica-se a entrega do material bélico que ainda se encontra na fortificação e disponibilizam-se as lajes para a igreja de São Pedro.
1880 - Por ordem superior, a artilharia de bronze ainda existente no forte é removida para Lisboa, sendo as peças de ferro enterradas em vários locais.
1883/1886 - Desabam partes da muralha do forte.
1891 - A Guarda Fiscal instala-se no forte e na edificação anexa (antiga residência do governador do forte), onde funcionara até então uma escola primária do sexo feminino e igualmente servido temporariamente como local de ensaio da Filarmónica da Ericeira.
1896 - Dá-se o desabamento de mais uma parte da muralha do forte.
1940, 17 de Julho - Inicia-se a construção da muralha subjacente ao forte.
1941 - Deixa oficialmente de ser considerado uma fortificação militar, passando para a dependência do Ministério das Finanças. Em Maio conclui-se a construção da muralha subjacente.
1945 - É entregue à Junta de Turismo da Ericeira.
1946 - A Direcção Geral de Turismo concede autorização para a realização de obras de adaptação a miradouro que não chegam a concretizar-se.
1970 - Surge um projecto para instalação de uma casa de chá que também não se concretiza.
1973 - Outro projecto para instalação de uma pousada no forte (segundo projecto do Arq. António Pinto de Freitas), o que mais uma vez se não concretiza.
1985 - É apresentado à D.G.E.M.N. um projecto para a instalação de um café - restaurante no forte. Também não se concretiza.
1992 - É apresentado à Junta de Turismo da Ericeira um projecto para a instalação de um café - concerto no forte. O destino deste projecto segue o dos anteriores.
(segundo descrição da DGEMN)

Presentemente, este pequeno forte de protecção da costa norte da nossa Ericeira, encontra-se em ruína, completamente abandonado.