quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O topónimo ERICEIRA


Na idade média aparecia escrita como Eyriceira, Ericeyra, Eyricera...
A origem do nome perde-se no entanto no fundo dos tempos.
Diz-se que neste local “terá subsistido uma devoção antiquíssima cujo sincretismo conduz à deusa fenícia Astarta e à grega Artemisa, conhecida em Creta por EILEITHYIA, e por Ericina no monte Erix, na Sicília, representada na companhia de um ouriço-cacheiro”.
Pode ser que numa dessas épocas: visigoda, romana, fenícia, grega, ou mesmo céltica, a região onde se situa a actual Ericeira tivesse sido um santuário dedicado a uma dessas deusas. Ou seria dedicado a uma outra, indígena, muito mais antiga?
Em toda a zona existem variadíssimos vestígios de ocupação humana desde épocas remotas: celtas, romanos, visigodos e mais recentemente, árabes. De povos ainda mais antigos e de que não se fala, esses sim os originais, pode-se ainda verificar vestígios de ocupação. Como se sabe, nem todos os povos antigos construíam em pedra. Os que habitaram esta zona, vivendo em comunhão sagrada com a natureza, construíam em madeira, deixando apenas como vestígios, os entalhes na rocha viva para fixação das traves que serviam de fundação e travamento às suas construções. Esses entalhes na rocha podem ser vistos ainda em vários sítios.
Outro tipo de vestígios típicos destes povos é as chamadas “tulhas”, buracos escavados na rocha, cujo interior em forma de vaso servia para armazenar os bens alimentares, principalmente cereais, tapadas com uma laje circular.
Navegáveis, na antiguidade, até alguns quilómetros dentro da linha de costa e com os respectivos portos fluviais; a norte a ribeira do Safarujo que desagua em S. Lourenço (Santa Susana) e a ribeira dos Cucos que desagua na praia de Ribeira d’Ilhas e a sul o rio Lizandro, navegável até à Senhora do Porto (N.Sra. do Ó), fizeram, certamente, da Ericeira antiga o centro de uma região importante tanto económica como religiosa.
Entre os exemplos de objectos de rituais mitológicos encontrados, figura um cipó truncado ou ara, cavada no interior, tendo exteriormente em alto-relevo, cinzeladas inscrições decorativas, possivelmente da era romana ou visigoda. Faz parte do espólio arqueológico do Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia.
Alguns apontam a origem do nome Ericeira ou Ouriceira (?) nos muitos ouriços do mar existentes na sua costa. No entanto, investigações mais recentes apontam o ouriço caixeiro e não o do mar como inspirador do nome. Com a descoberta de um exemplar do antigo brasão da Vila, existente no mesmo Arquivo-Museu, confirmou-se que o animal ali desenhado é, de facto, um ouriço caixeiro, espécie que evoca a deusa fenícia Astarte, dando razão à tese anteriormente avançada por Manuel Gandra, e segundo a qual a origem do povo da Ericeira remonta aos fenícios. A história da Ericeira remonta, assim, a cerca de 1000 a.C..
Terá nascido, no isolamento edílico e mágico das Furnas, o topónimo Ericeira, devido ao culto da deusa EILEITHYIA ou ERICINA?
João Bonifácio

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