sexta-feira, 28 de novembro de 2008

História no lixo


Coincidência ou destino. Chamem-lhe o que quiserem.
Há já algum tempo que me dedico a reconstituir a árvore genealógica da minha família. Do meu lado paterno os vestígios remontam ao início do século XVII, porém do lado materno, no que respeita ao ramo familiar do meu avô, estão limitados aos finais do século XIX com menção apenas aos nomes dos meus bisavós. E é precisamente sobre o meu bisavô que lhes quero contar esta extraordinária história de coincidências.
Recentemente, ao passar junto de um contentor do lixo, a minha mãe reparou que tinham sido ali despejadas grandes quantidades de documentos antigos. Olhou melhor e entre eles viu algo que lhe pareceu familiar: velhas cédulas marítimas. Somos descendentes de velhos lobos do mar e estas cadernetas marítimas faziam parte do seu dia a dia. Eram os seus bilhetes de identidade; o documento mais importante na casa de um pescador. E ali estavam, amontoados, esquecidos, abandonados. Um pedaço da história da Ericeira, atirado para o lixo.
Não resistindo à curiosidade, a minha velhota retirou umas quantas cadernetas e ao abrir uma delas, ficou estupefacta! Era a cédula marítima do seu avô. O meu bisavô, Domingos Bonifácio. A alegria de recuperar um documento tão importante de um elemento querido da família, abafou a justificada revolta de ter sido encontrado em situação tão ultrajante.
Quantas situações destas se registaram e registam ainda hoje? Quanta da nossa memória foi parar ao lixo, deitada fora por aqueles que dizem ser os protectores dessa mesma memória?
Aqui fica uma respeitosa homenagem a todos os velhos marinheiros.
Os verdadeiros heróis da nossa História.
Antigos jagozes, não vos esqueceremos!
João Bonifácio

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